- ESTADÃO – Por Gabriel Toueg
Mercado converge sobre posição do País na atração de investidores em meio a conflitos geopolíticos, eventos climáticos e políticas econômicas
O Brasil pode não ser “a bola da vez”, como sugere o vice-presidente Geraldo Alckmin, mas o mercado vê com certo otimismo o momento do País. As razões que levam Alckmin a comemorar estão na melhora da classificação do Brasil por agências de risco, recuperação do “respeito internacional”, após as fortes turbulências na política e em relação à própria democracia, e indicadores positivos: queda da inflação e dos juros e diminuição do desmatamento da Amazônia.
“O Brasil não está mal na foto”, garante o professor de Negócios Internacionais da FGV Paulo Ferracioli, que mostra que, apesar de uma queda global de 12% nos investimentos estrangeiros, o Brasil teve bom desempenho. Ele se apoia nos dados do relatório de investimentos globais da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD, na sigla em inglês). De 2021 a 2022, o montante de investimentos externos no Brasil saltou de US$ 51 bilhões para US$ 86 bilhões. O aumento foi de 68,6%.
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O economista-chefe da G5 Partners, Luis Otávio de Souza Leal, acredita que há boas oportunidades, “principalmente nas concessões do setor de saneamento básico, que precisa de bastante investimento, com capacidade de ganhos grandes para o investidor estrangeiro”. E, por eliminação entre os emergentes, afirma, também vê oportunidades nos ativos: “A China está cada vez menos market friendly; a Rússia nem precisa falar; a África do Sul tem problemas seriíssimos de infraestrutura e políticos”. Ele lembra do México como grande competidor do Brasil.
Mas para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a coisa não é bem assim. Segundo ele, o governo tem retrocedido ao tentar forçar uma alteração na lei das estatais para fazer indicações políticas. O professor Ferracioli também critica o sistema tributário ruim, que atrapalha a competitividade e, consequentemente, a atração de investidores.
Fatores externos
Há pouco consenso no mercado em relação à influência de eventos externos – dos mais aos menos previsíveis – na forma como investidores, principalmente de fora do Brasil, olham para o País. “Considerando tudo que eu tenho ouvido, lido, não tenho dúvidas de que o Brasil está num caminho de recuperação”, afirma o professor da FGV.
Há exemplos de sobra. A invasão russa da Ucrânia já tem efeitos em todo o mundo, com redução no escoamento de grãos e escassez de alimentos, problemas na geração de energia, baixa confiança de empresas europeias, e a previsão de que terá custalança do à economia global US$ 2,8 trilhões em produção perdida até o fim de 2023. Com efeitos ainda incertos, está a escalada de tensão no Oriente Médio desde que o Hamas disparou mísseis e matou centenas de civis, gerando uma resposta contundente do Estado judeu.
O economista André Perfeito diz ser otimista ao observar o Brasil “relativamente blindado” de eventos externos. “Tanto geográfica como geopoliticamente, somos uma fronteira de investimentos fora desses ruídos internacionais”, diz. Ele aponta uma série de condições internas favoráveis, como expectativa de alta do PIB, abundância de reservas, tranquilidade na bae volta de regras fiscais.
Luis Otávio de Souza Leal, economista-chefe da G5 Partners, também esbarra em otimismo. Ele diz não ter visto impactos no risco país com o conflito na Ucrânia e que, ao contrário do que se podia esperar, a guerra acabou sendo favorável para o Brasil. “O agricultor brasileiro vai dizer que 2022 foi muito melhor do que 2021”, garante. “Dado que a Ucrânia é grande exportadora de grãos, a guerra gerou crescimento do preço dos grãos que o Brasil exporta, embora sem alta no volume.” Ele só vê risco no outro conflito se o Irã se envolver ou com uma escalada global.
Energia limpa
Ferracioli, da FGV, avalia que o Brasil está muito bem em relação à energia limpa. Ele lembra que, entre os países em desenvolvimento, somos quem mais recebeu investimentos em energias renováveis, bandeira do atual governo. “Do total de investimentos no Brasil, um terço foi em energia renovável.”
Mas, para Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, embora tenhamos a maior capacidade de geração de energia limpa do mundo, ela é uma das mais caras. “Isso nos faz perder investimentos para países com menos capacidade.” Para ele, a transição é um movimento natural e global, e o Brasil tem todas as condições de ser competitivo.*