O planeta pede socorro. “se continuar como está. A sobrevivência humana corre risco”

O ano de 2023 deverá encerrar com recorde nas emissões de gases de efeito estufa (GEE), uma marca triste que ninguém gostaria de ostentar. As emissões globais, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), aumentaram 1,2% de 2021 a 2022, atingindo recorde no ano passado, com expectativa de que seja superado em 2023.

Vários sinais estão sendo emitidos nesse sentido. No dia 15 de novembro, a Agência Meteorológica da ONU anunciou o registro da maior concentração de dióxido de carbono já vista na atmosfera, sendo este, o CO2, o principal causador do efeito estufa. A última vez que isso ocorreu, em níveis parecidos, estimam os cientistas, foi entre três e cinco milhões de anos atrás, quando a temperatura média era cerca de 3°C mais quente e o nível do mar até 20 metros mais alto do que agora.

As concentrações de metano, segundo principal gás a contribuir para o aquecimento global, também aumentaram 264%, para 1.923 partes por bilhão. Os níveis de óxido nitroso, o terceiro nessa escala, registaram 336 partes por bilhão, o novo pico anual após 2021 e 2022. Os níveis recordes de gases ocasionam a elevação da temperatura.
Também neste mês de novembro, no dia 17, o mundo atingiu um marco preocupante, totalmente na contramão das metas que vêm sendo traçadas para o futuro do planeta e colocando em xeque a capacidade dos países de manterem as condições climáticas em níveis suportáveis para a humanidade.

Nessa data, pela primeira vez, a temperatura média global chegou a 2°C acima dos níveis da era pré-industrial (1850-1900), ficando em 2,07°C. Isso representa 1,17°C acima, em relação à média do período de 1991 a 2020. Os números foram apresentados pelo Serviço de Monitorização das Alterações Climáticas do Copernicus (C3S).

A meta estabelecida no Acordo de Paris, assinado em dezembro de 2015, era de manter o aquecimento global num patamar suportável de, no máximo, 1,5°C, com a redução das emissões dos GEE na atmosfera. Para a ONU, opinião manifestada em relatório recente, a meta está agora mais longe ainda de ser alcançada, com uma probabilidade calculada de apenas 14%.

O pacto firmado com esse propósito entre os países signatários da ONU não tem surtido efeito e os resultados caminham na direção do que todos gostariam de evitar. E assim, 2023 chegará ao final com a marca triste de ser o mais quente em 125 mil anos.

Além dos problemas causados pela ação humana, como a utilização de combustíveis fósseis e os incêndios florestais criminosos, 2023 foi também impactado pelo fenômeno El Niño, que vem potencializando os efeitos das mudanças climáticas, registrando recordes de calor em várias partes do mundo. Uma composição de fatores que se juntam, criando as condições propícias para um cenário devastador, provocando o aumento da temperatura no planeta e a ocorrência, cada vez mais frequente, de eventos extremos.

Mantendo-se a temperatura média acima de 2°C, os prognósticos não são nada bons. Nas regiões continentais, por exemplo, as ondas de calor podem ser de duas a três vezes maiores. Espécies de animais e plantas podem desaparecer e eventos como ciclones, furacões, tornados, alagações e secas, irão ocorrer com mais frequência e de forma extrema, em maior intensidade.

Estudo divulgado na revista científica “The Lancet” prevê que as mortes por calor extremo devam aumentar quase cinco vezes até 2050. E que nos próximos anos as secas também se intensificarão, colocando sob o risco da fome milhões de pessoas.

O que estamos vendo hoje passar como um filme na nossa frente, não é novidade. Há décadas a comunidade científica alerta para isso e para as medidas que devem ser tomadas. A questão, com certeza, ganhará de novo o centro das atenções, dessa vez na Cúpula do Clima, a COP28, a ser realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Não há como fugir. Todo o planeta já está sentindo os efeitos do aquecimento e a tendência é o agravamento, se continuar como está. A sobrevivência humana corre risco.

*Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de secretário de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano do Amazonas