- Da Redação/G1-AM
Os resultados das mudanças climáticas não são nada animadores para a população dos municípios do Amazonas situados nas calhas do Juruá, Purus e Solimões onde o governo do Estado já decretou Estado de Emergência, depois de avaliar que a estiagem deste ano poderá ser ainda mais severa do que a de 2023 que causou sérios problemas.
A administração municipal de Envira mostra sua preocupação com o abastecimento de alimentos e produtos de primeira necessidade, com o isolamento das populações ribeirinhas devido à seca dos rios e igarapé e ainda mais grave a dificuldade para garantir abastecimento de oxigênio, insumos hospitalares e material para hemodiálise nas unidades de saúde.
Outro grave problema que já está sendo enfrentado pela gestão municipal é com o a vazão dos poços artesianos. Com a seca dos rios a água dos poços seca e as bombas trabalham com maior potência para fazer o bombeamento e passam a ter problemas. Em 2024 quatro bombas de poços artesianos já pifaram e o prefeito luta para repor os equipamentos.
A estiagem de 2023 afetou bastante o município de Envira (AM) isolando comunidades ribeirinhas e causando sérios problemas de abastecimento com o nível do Rio Tarauacá, que banha a cidade que media 8,55 metros e agora, um ano depois, já está medindo apenas 5,26 metros, informou a prefeitura municipal.
O tema foi destaque numa matéria do G1-AM que noticiou a situação da foz do Rio Jurupari, um dos afluentes do Rio Envira, onde já é possível fazer o trajeto entre as duas margens a pé. No fim de semana, as águas mediam 1,22 metros e no ano passado, no mesmo período, as águas estavam em 6,77 metros.
Rios Envira e Tarauacá sofrem estiagem severa no interior do Amazonas. — Foto: Divulgação/Defesa Civil Municipal
Dados da Defesa Civil de Envira apontam que sete mil pessoas já foram impactadas pela seca dos Rios Tarauacá e Envira na sede do município, e outras três mil sofrem os efeitos do problema na zona ribeirinha o que fez a prefeitura municipal decretar Situação de Emergência para garantir condições de atendimento à população.
“A situação é bastante delicada e ainda estamos no mês de julho. Nunca tivemos um rio tão baixo. Nesse mesmo período, no ano passado, o rio estava dois metros acima do que está hoje. O normal são os barcos saírem de Feijó (AC) de manhã e chegarem aqui pela noite ou na manhã seguinte. Hoje, barcos com 10, 15 toneladas estão demorando dez dias para fazer esse trajeto”, contou Ismael Dutra, chefe da Defesa Civil municipal.
Ainda segundo Ismael, com os rios secos, as embarcações estão encalhando e até naufragando e o transporte, que já é difícil na região, tende a piorar. Com isso, há risco de desabastecimento de itens de consumo diário da população, inclusive itens como o oxigênio para abastecer o hospital do município.
localizado na Calha do Juruá, distante 1200 quilômetros da capital, Manaus, o município de Envira tem 17 mil habitantes e o rio como seu principal polo de abastecimento. Com a estiagem e assoreamento a navegabilidade para barcos e balsas maiores fica prejudicada causando grande prejuízos à economia.
Em condições normais, é mais fácil e vantajoso chegar ao município de Envira por Feijó, cidade acreana que fica a 89 km do município amazonense, usando barco ou avião – únicos meios de transporte possíveis e outro problema causado pela estiagem é o aumento do custo do transporte de mercadorias.
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As comunidades rurais dos rios Envira Alto e Tarauacá Alto estão quase que 95% afetadas, inclusive três bairros na cidade estão afetados diretamente. 70% da mercadoria que chega a Envira vem de Feijó e está também muito complicado o transporte do gás e alimentos. No município já falta algumas verduras, como o tomate.
“Do jeito que o rio está baixando diariamente vamos ter muitas outras comunidades isoladas em breve”, disse o chefe da Defesa Civil que aconselha os moradores das regiões ribeirinhas para que guardem alimentos e se abriguem na sede do município, principalmente pessoas com problemas de saúde porque existe um risco de isolamento”, disse.
A situação é tão crítica que o chefe da Defesa Civil aconselhou moradores das regiões ribeirinhas a se abrigarem na sede do município.
“Estamos pedindo que a população guarde alimentos, que as pessoas que estão em comunidades rurais, principalmente as que tenham problemas de saúde, possam vir para a sede do município porque existe sim um risco de isolamento.”
Seca revela vegatação às margens de rio em Envira. — Foto: Divulgação/Defesa Civil Municipal
Transporte impactado
O barqueiro Elvis Melo, que mora em Envira e trabalha fazendo o transporte de verduras de Feijó até o município, contou que teve que mudar de barco para poder trabalhar.
“Em condições normais, essa viagem demoraria cerca de um dia. Mas, com a seca, um barco médio está demorando cerca de 6 a 7 dias para chegar a Envira, saindo de Feijó. Por isso, tivemos que trocar para uma canoa pequena, que demora uns dois ou três dias para chegar, para poder passar em alguns trechos do rio onde não se passa mais”, informa o barqueiro.
O problema também tem impacto na renda do comerciante, que muitas vezes vê o produto estragar durante a viagem, sem poder fazer nada. “A gente tem perdido muitas verduras por conta do tempo de viagem. Aí, o que fazemos é vender a preço de custo para não perder a mercadoria”, afirma.
“Não é normal. A situação que estamos vivendo hoje parece a que vivíamos no final da seca do ano passado. Se continuar assim, vai faltar energia, porque não tem como trazer combustível. Com as verduras, conseguimos passar de pouquinho em pouquinho, mas não tem como fazer isso com o petróleo. Logo, sem combustível, podemos ficar sem energia”, ressalta
Saúde em alerta
A estiagem no município acendeu, ainda, um alerta na área da saúde. Com o isolamento, apesar do estoque garantido pela prefeitura Envira pode ficar sem oxigênio, insumos hospitalares e ainda material para hemodiálise, segundo o secretário de saúde Maronilton Silva.
“Hoje, a nossa logística se faz através do estado do Acre, saindo as balas [cilindros] de oxigênio de Feijó. Isso levava dois, três dias. Hoje, são 11, 12 dias para o oxigênio chegar a Envira. Ainda não temos usina, ficamos no aguardo, vamos precisar tomar medidas para não ficarmos sem o insumo”, enfatiza o secretário ao mostrar preocupação também com possibilidade da cidade ficar sem água potável.
“Os nossos poços artesianos estão ficando escassos. Temos essa dificuldade e estamos tentando arrumar isso para que a gente não fique sem água. O que a gente está vivendo hoje, em condições normais, deveríamos viver em setembro, outubro. É o momento de nos preocuparmos”, disse.
Envira sofre uma das piores secas da história. — Foto: Divulgação/Defesa Civil Municipal
Ações preventivas
O governo também decretou emergência ambiental no estado devido a queimadas registradas no sul do Amazonas, Manaus e região metropolitana. Os decretos têm validade de 180 dias.
Ainda conforme o governo, ações voltadas para o abastecimento de água potável, insumos e medicamentos para a saúde, produção rural, logística para a manutenção do funcionamento da rede estadual de educação, ajuda humanitária e dragagem dos rios são os principais focos do cronograma de atividades do plano de contingência do governo.
Municípios da calha do Juruá já estão recebendo medicamentos e insumos para a saúde, como Guajará, Envira e Ipixuna, segundo a secretária de saúde, Nayara Oliveira. Nas localidades, com a vazante dos rios, o transporte fluvial já está sendo prejudicado.