- * Marcellus Campêlo
A seca deste ano dá sinais de que será mais severa do que em 2023, na região Norte, gerando preocupação às populações que começam a ser atingidas, ao poder público que vem executando estratégias para reduzir os impactos, e todos os setores da economia. Há previsões de que a temperatura média global se mantenha acima do limite crítico de 1,5ºC.
Alguns componentes dão indicações nessa direção – a crise climática que afeta o mundo, os efeitos do fenômeno El Niño, que já se arrefeceu, mas deixou o seu rastro, e a ação do homem potencializando a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.
No ano passado, com o aquecimento do Oceano Atlântico provocado pelo El Niño, enfrentamos uma seca extrema no Amazonas, com prejuízos à indústria e produção rural, isolamento de municípios, pela dificuldade no transporte fluvial, além do aumento das queimadas, deixando o ar extremamente poluído e com riscos à saúde pela exposição à fumaça tóxica.
A estiagem de 2023 foi tão severa que o período chuvoso, no primeiro semestre deste ano, não permitiu a cheia suficiente dos rios, que se mantiveram abaixo da média, resultando em déficit hídrico. Essa é a grande preocupação de todos, porque isso indica que a vazante pode ser ainda maior, provocando uma seca mais severa este ano. Também preocupa o fato de as queimadas terem começado a ocorrer em agosto, bem antes do que normalmente acontece, que é em outubro.
Essa conjunção de fatores e a antecipação de alguns fenômenos, já vem causando estragos. Dados da Defesa Civil do Estado apontam que 20 municípios se encontram, hoje, em situação de emergência no Amazonas e que a seca já afeta 111,9 mil pessoas, cerca de 27 mil famílias.
De 19 para 20 de agosto, o rio Negro vazou 20 cm, atingindo a cota de 22,56 metros acima do nível do mar. No ano passado, na mesma data, vazou 11 cm, ficando na cota de 25,16 metros acima do nível do mar. A diferença é de 2,60 metros, em relação a 2023. Os barcos já começam a encalhar no meio do Juruá, informa a Defesa Civil.
O Governo do Estado já enviou 226 toneladas de alimentos para as regiões mais afetadas, assim como mais de 200 toneladas de insumos e medicamentos que chegaram aos municípios das calhas do Madeira, Juruá, Purus e Alto Solimões. Também adotou medidas para garantir o abastecimento de água potável, com instalação de purificadores e de caixas d´agua.
Em outra frente, vem combatendo os focos de incêndio e atuando com rigidez contra as queimadas provocadas por ação humana e de maneira criminosa, expedindo multas pesadas, realizando prisões e embargos de áreas.
As queimadas, naturais ou por ação humana, estão ocorrendo também no Pantanal e em países vizinhos, como a Bolívia, afetando a qualidade do ar. A cidade de Porto Velho, em Rondônia, tem apresentado um dos piores índices de qualidade do ar, no país, conforme medição da empresa suíça IQAir. Pará, Rondônia e outros estados da região também convivem com as queimadas e a seca extrema.
No Amazonas, o governador Wilson Lima criou o Comitê Intersetorial de Enfrentamento à Situação de Emergência Ambiental, para coordenar as ações dos órgãos envolvidos no Plano de Contingenciamento desenvolvido para esse fim.
O foco é, principalmente, na preservação de vidas, redução de impactos, conservação do meio ambiente e estímulo à economia nos municípios afetados. O trabalho tem sido incansável e já realizado com bastante antecedência, monitorando e dando respostas rápidas para mitigar os efeitos da crise climática.
Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em saneamento básico; exerce, atualmente, o cargo de secretário da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE