- INPACTO – Foto(s): Divulgação ApexBrasil
Estabelecido durante o primeiro governo Lula, Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX) já atendeu mais de 30 mil empresas e busca fomentar um comércio internacional mais justo
Presente, passado e futuro do maior programa de qualificação para exportação do Brasil se encontraram, nessa quinta-feira (28/11), em evento realizado pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). A Agência, que desde 2008 executa o Programa de Qualificação para Exportação (PEIEX), reuniu empresas que já participaram, parceiros e autoridades para celebrar seus 20 anos e divulgar novas estratégias. O objetivo é alcançar mais empresas e transformar empreendedores de todas as regiões do país em exportadores. O encontro contou com a presença do vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, do presidente da ApexBrasil, Jorge Viana, e do presidente do Sebrae, Décio Lima.
“O Brasil tem escala, tamanho, recursos naturais, uma população extremamente trabalhadora e temos o desafio de crescermos ainda mais fortemente, e aí o comércio exterior é fundamental”, afirmou Alckmin. “Precisamos formar e preparar nossas empresas, especialmente as pequenas, para que elas tenham acesso ao mercado internacional. Esse é o importante trabalho do PEIEX, promovido pela ApexBrasil e agora junto com o Sebrae”, concluiu o vice-presidente, elogiando a parceria recém firmada entre a Agência e o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae Nacional). Em setembro, um convênio de aproximadamente R$ 175 milhões foi assinado entre as duas instituições com o objetivo de incentivar cooperativas, micro e pequenas empresas (MPEs) – especialmente das regiões Norte e Nordeste – para que iniciem ou aperfeiçoem estratégias voltadas para a exportação.
Jorge Viana destacou os novos rumos do PEIEX. “Além de celebrar os 20 anos do programa, estamos inaugurando uma nova fase. Ele tem que incorporar agora uma preocupação com empresas que estão nascendo, promover negócios com liderança feminina, ter um olhar para regiões que estão menos integradas com o mercado internacional. Onde estiver alguém querendo uma oportunidade para montar seu negócio e exportar um produto, o PEIEX vai estar presente para acolher”, afirmou o presidente da ApexBrasil. No encerramento do evento, Décio Lima sublinhou a importância do PEIEX para os pequenos negócios. “É um programa que transforma negócios locais em protagonistas do comércio internacional, reforçando a parceria entre governo e instituições em prol do desenvolvimento econômico do Brasil. Vamos continuar construindo pontes para o futuro, com inovação, competitividade e muito trabalho!”, finalizou.
O presente: o PEIEX transformando negócios
Representando o Nordeste, diretamente do sul da Bahia, Itabuna – região cacaueira -, a empresária Leilane Benevides veio à Brasília participar da celebração e contar sua trajetória pelo universo da exportação. “Eu comecei incentivando os meus clientes a produzir cacau cabruca de qualidade, para agregar valor. E aí eles me perguntavam: mas eu vou vender para quem? Foi quando eu fui estudar sobre o cacau, entender como se fazia chocolate, e aí comprei uma maquininha para brincar em casa”, relatou. A partir disso, produzindo na área de serviço de sua casa, Leilane começou sua jornada de sucesso. Vendendo para os amigos e conquistando o paladar da região, em 2018, quando o PEIEX específico de cacau e chocolate chegou na cidade, foi por indicação que os técnicos do Núcleo do Programa chegaram até Leilane e a convenceram de criar uma marca, participar do Programa e, por que não, se inscrever para expor no Salão do Chocolate Paris – um sonho que parecia distante para ela.
Três meses após criar a marca “Chocolate Benevides”, a empresa foi convidada a participar do evento em Paris. Desde então, o mundo se abriu para Leilane. “Hoje estamos posicionados entre os melhores chocolates do mundo. Temos 12 premiações internacionais nas duas maiores competições de chocolates, e a nossa pegada não é só o chocolate, é valorizar o cacau, que é a nossa principal matéria-prima, e valorizar também os sabores e ingredientes brasileiros”, contou Leilane. “Realmente o PEIEX fez e faz muita diferença na minha vida e eu falo que empreender é um eterno aprendizado”, concluiu. Outra empreendedora que veio de longe para contar sua história, representando a região Norte e o potencial das empresas amazônicas, foi Ana Lídia Zoni Ribeiro, CEO e fundadora do Hidromel Uruçun, do Pará. “Meu negócio surgiu através de uma dor dos pequenos produtores de abelhas sem ferrão que produziam mel e não tinham para quem vender. Então eu pensei, por que não pegar o produto mel e transformar no hidromel? E assim surgiu o meu produto”, narrou Ana Lídia.
O Hidromel é uma bebida 100% amazônica, à base de mel, água e levedura. Ana Lídia contou que a empresa nasceu em 2019 a partir de uma pesquisa científica. Naquele ano, ela produziu e vendeu 19 litros. Já no ano passado, Ana Lídia conta que conseguiu produzir e vender 7 mil litros de hidromel. “A minha jornada exportadora começou em 2022. Em 2021, eu concluí o PEIEX e estava preparada para entrar no mercado alemão, foi a minha primeira experiência. Hoje eu exporto para sete países graças ao PEIEX que me preparou”, afirmou a empresária, que concluiu com orgulho: “com o meu trabalho, eu não só defendo a floresta, eu multiplico a floresta”. Além destas, outras três empresas também estiveram presentes no evento e relataram suas histórias de sucesso e a importância do PEIEX na trajetória dos seus negócios. Uma delas, a iTransporte, startup de Minas Gerais focada em soluções para mobilidade urbana, participou do PEIEX no ano passado e celebrou, durante sua apresentação, a licença para exportação conquistada há três dias. “Quando você está sempre se preparando, uma hora a oportunidade chega. Quanto mais preparado você está, mais sorte você tem”, afirmou André Reis, fundador da empresa.
O passado: as origens do PEIEX
“O Programa foi concebido através de uma experiência francesa, em que três personalidades gaúchas foram convidadas pelo governo francês para conhecer um projeto inédito de fazer as empresas francesas exportarem mais por meio do conhecimento oriundo das universidades”, contou Leonardo Deppe, idealizador do PEIEX. O ano era 1999. Leonardo conta que a
ApexBrasil ainda não havia sido criada, que o Brasil vivia uma crise de balança de pagamentos e exportar era preciso para gerar divisas. A partir da experiência francesa, entendeu-se que o modelo poderia ser usado na região metropolitana de Porto Alegre, mas a participação do setor privado ainda era limitada. “Faltava um link, uma pessoa que atuasse tanto na universidade como na empresa, que falasse a linguagem acadêmica e empresarial. Então surgiu a figura do técnico-extensionista, que é quem realiza o diagnóstico da empresa e leva para a universidade, avaliando como aumentar sua competitividade e estimulando uma cultura exportadora”, relatou Deppe.
Esses foram os primeiros passos de um projeto de qualificação empresarial para a exportação. A partir de então, cinco técnicos foram escolhidos pela prefeitura de Porto Alegre e Leonardo Deppe foi um deles. “Começamos a desenvolver uma metodologia para botar tudo no papel, todos os procedimentos, as fichas, o manual de operação, e não durou muito, porque teve um sucesso imediato e o governador levou o projeto para o âmbito estadual, criando convênios com todas as universidades comunitárias do Rio Grande do Sul e algumas federais”, explicou.
Os números revelam o rápido sucesso da iniciativa. Em três anos, foram atendidas milhares de empresas, o que despertou o interesse do MDIC. “Em 2003, fui chamado para Brasília para desenvolver o projeto em âmbito nacional, e eu chamei meu melhor extensionista, Tiago Terra”, contou Deppe. Foi então que nasceu o Projeto de Extensão Industrial Exportadora (PEIEX). O PEIEX passou a ser desenvolvido pela ApexBrasil em 2008. Havia o desafio de nacionalizar o programa e de fomentar uma cultura nacional exportadora. “Nós espalhamos, no primeiro momento, 23 núcleos operacionais do PEIEX no país, mas, na época, falar de comércio exterior era uma barreira. A gente tinha que falar de competitividade para aumentar o mercado, porque as pessoas não tinham cultura exportadora”, relatou Tiago Terra.
Graças ao PEIEX, em 2010, a ApexBrasil ganhou o prêmio de melhor agência de promoção de comércio e investimentos do mundo, o que significou um selo de qualidade tanto para Agência, quanto para o PEIEX. “O prêmio deu um respaldo muito grande para a gente. Depois disso, as entidades setoriais começaram a vir à Apex e pedir o PEIEX. Então, o programa foi ganhando parceiros, como o Sebrae, o SENAI. Nosso objetivo era qualificar 6 mil empresas e hoje já são mais de 30 mil”, concluiu Terra.
O futuro: o PEIEX na promoção de um comércio exterior mais justo
Empresas exportadoras pagam melhores salários, são mais longevas e mais competitivas. Isso é o que aponta Perfil das Firmas Exportadoras Brasileiras, estudo do MDIC. “O comércio exterior é, sem dúvida, um vetor do desenvolvimento econômico. Porém, hoje, os ganhos que ele gera estão muito concentrados no Sul e Sudeste, o que é natural pela concentração industrial nessas regiões, mas a gente precisa diversificar as origens das exportações. Precisamos incluir o Norte e o Nordeste”, afirmou a diretora de Negócios da ApexBrasil, Ana Paula Repezza. Além de concentrado regionalmente, no comércio exterior brasileiro preponderam as grandes empresas.
Embora as micro e pequena empresas representem 98% dos negócios nacionais, elas representam 40% das empresas exportadoras e apenas 1% do valor exportado. “Vamos aumentar a capilaridade do programa. O Sebrae é um parceiro com o qual temos o potencial de chegar em todo lugar e atender empresas que talvez nunca tenham pensado em exportação”, destacou Clarissa Furtado, gerente de Competitividade da ApexBrasil.
Outro desafio do comércio exterior é a inclusão de gênero. Somente 14% das empresas exportadoras pertencem em sua maior parte a mulheres. Os dados são do estudo Mulheres no Comércio Exterior, Uma Análise para o Brasil, elaborado pelo MDIC. “O comércio exterior precisa ser representativo da sociedade brasileira, mostrar nossa diversidade, para que seja um propulsor de uma economia mais justa. Ao incluir mulheres e todas as regiões no comércio internacional, o PEIEX é um instrumento fundamental para realizar um comércio exterior mais justo”, concluiu Ana Repezza.
E-book “Ensaios PEIEX 2024”
Na ocasião da celebração, foi lançado a quarta edição do e-book “Ensaios PEIEX 2024”. O material reúne artigos sobre o impacto do Programa na internacionalização das empresas qualificadas, elaborados por integrantes da equipe do Núcleo Operacional do PEIEX (Coordenadores, Monitores, Técnicos e Apoios Técnicos), de convênios vigentes ou encerrados, funcionários da ApexBrasil e pesquisadores externos.
Confira o e-book Ensaios PEIEX 2024
Quer saber mais sobre o PEIEX? Acesse www.apexbrasil.com.br