- Por: Andrade Filho – Jornalista e filósofo
As grandes indústrias alimentícia e farmacêutica parecem andar de mãos dadas em um pacto silencioso. De um lado, alimentos ultraprocessados, carregados de açúcar, sal, gorduras e aditivos químicos, que lentamente adoecem milhões de pessoas. Do outro, a indústria farmacêutica, pronta para oferecer comprimidos e tratamentos que controlam – mas raramente curam – os males causados por essa alimentação.
O resultado é um ciclo lucrativo: quanto mais se consome produtos industrializados, mais cresce a demanda por medicamentos de uso contínuo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), doenças crônicas não transmissíveis como diabetes, hipertensão e câncer já são responsáveis por 74% das mortes no mundo. No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, cerca de 57% dos adultos estão com excesso de peso e 23% são obesos – índices diretamente ligados ao consumo de ultraprocessados.
A indústria farmacêutica, por sua vez, movimenta cifras bilionárias com a venda de remédios para controlar essas doenças. Estima-se que o mercado global de medicamentos contra diabetes, por exemplo, supere US$ 60 bilhões por ano, enquanto o de remédios para hipertensão ultrapassa US$ 30 bilhões.
Esse “pacto” não declarado revela um modelo econômico que lucra com a doença, transformando a saúde em mercadoria e o cidadão em cliente vitalício. Campanhas publicitárias e lobbies políticos reforçam esse sistema, moldando hábitos de consumo, pesquisas científicas e até políticas públicas.
Enquanto seguimos presos a esse ciclo que privilegia interesses bilionários, a saúde coletiva continua em segundo plano. A pergunta é: até quando aceitaremos que a comida que nos adoece e o remédio que nos mantém sejam parte de um mesmo negócio?