COP 30: Realidade Amazônica não se esconde sob ar-condicionado – Marcellus Campêlo

A realização da COP 30 em Belém, no Pará, é uma oportunidade histórica para que o mundo conheça mais de perto a Amazônia, bioma de importância global, mas nem sempre reconhecido ou tratado como tal. Moramos numa região que abriga a maior floresta tropical e bacia hidrográfica do mundo. Nada mais justo que trazer o debate climático para o coração dessa floresta, onde os desafios são reais e muito mais complexos do que qualquer análise distante pode supor.

É natural que surjam críticas sobre a infraestrutura da cidade que vai sediar o evento e sobre as dificuldades logísticas para receber milhares de participantes. Essa é realidade da Amazônia e esses problemas são enfrentados por seus habitantes todos os dias, seja nos deslocamentos para outros estados ou países, pagando passagens caríssimas, e até mesmo na alimentação, segmento que recebe um peso enorme do que se configurou chamar por aqui de “custo amazônico”.

Esse é o ponto que gostaria de chamar a atenção: a COP 30, na minha opinião, não pode ser um encontro enclausurado, realizado em locais que não refletem as dificuldades que são sentidas nas regiões mais vulneráveis do planeta e para onde os olhares se voltam quando há cobrança pela preservação da floresta.

O objetivo, ao trazer o evento para a Amazônia, é expor ao mundo como vivem milhões de pessoas que dependem dos rios, enfrentam distâncias imensas, acessos difíceis e serviços que ainda precisam avançar. Dificuldades que a maior parte do mundo desconhece.

Questionar a escolha de Belém é ignorar que a COP precisa estar onde o debate se faz mais urgente. Não faz sentido discutir mudanças climáticas em grandes metrópoles europeias ou asiáticas, longe dos impactos diretos da crise ambiental. A Amazônia é o epicentro desse debate, tanto pelo papel que desempenha no equilíbrio climático global quanto pela vulnerabilidade das suas populações diante das transformações já em curso.

Belém não precisa esconder suas limitações. A falta de hotéis cinco estrelas ou de avenidas largas não é um problema — é parte da verdade que precisa ser mostrada. Receber os líderes mundiais na capital paraense é um gesto político e simbólico: não se trata de oferecer luxo, mas de mostrar ao mundo a dimensão do desafio e a necessidade de compromissos concretos com quem vive e protege essa floresta.

O Governo do Amazonas vai estar presente no evento, propondo parcerias e buscando o apoio de instituições internacionais para a viabilização de projetos que contemplem as comunidades tradicionais e ribeirinhas, reconhecendo que a preservação ambiental anda lado a lado com a justiça social. São essas pessoas que ajudam a manter preservada a nossa floresta e para elas devem ser direcionados investimentos mais robustos.

O Amazonas tem resultados concretos a mostrar. Dentre eles, os esforços para a manutenção da cobertura florestal, hoje em patamar de 97%, os ganhos em cadeias produtivas sustentáveis e, na parte que toca à Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano (Sedurb) e Unidade Gestora de Projetos Especiais (UGPE), o trabalho que vem sendo feito para ampliar o acesso da população ao saneamento básico.

Além disso, vamos chegar à COP 30 como o primeiro estado brasileiro a ter 100% da iluminação pública do interior totalmente em LED, o que representa, além da eficiência energética proporcionada e redução de custos, uma enorme contribuição do estado à redução da emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.

O trabalho é resultado do Programa Ilumina+ Amazonas, implantado pelo governador Wilson Lima em 2022, e que vem sendo executado pela UGPE. Tenho muito orgulho de comandar esse projeto, pelo alcance que tem e pelos benefícios que gera para a população do interior.

O Amazonas estará na COP 30, sim, e faz questão de prestigiar o estado vizinho. Quem vai para Belém, penso eu, deve estar preparado para enfrentar não apenas debates diplomáticos, mas também a realidade amazônica — e dela sair com mais responsabilidade e compromisso com o planeta. A crise climática exige ação imediata e compartilhada, para que possamos construir soluções viáveis e coletivas.

E, independente das condições e realidades locais, uma coisa é certa: nosso povo sabe receber quem nos visita. O melhor calor que irão enfrentar é o calor humano e hospitaleiro de nossa gente!

*Marcellus Campêlo é engenheiro civil, especialista em Saneamento Básico e em Governança e Inovação Pública; exerce, atualmente, os cargos de secretário de Estado de Desenvolvimento Urbano e Metropolitano – Sedurb e da Unidade Gestora de Projetos Especiais – UGPE