- Gabriela Maraccini, da CNN
Quanto mais rápido o atendimento médico é iniciado, maior as chances de sucesso no tratamento, segundo médico emergencista
Os casos de intoxicação por metanol relacionada à ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas têm crescido em São Paulo e chamado atenção. Segundo o governador Tarcísio de Freitas, o estado acumula 22 casos (suspeitos e confirmados) e cinco mortes, com quatro ainda em investigação e uma já confirmada.
A intoxicação por metanol gera sintomas semelhantes aos de uma embriaguez por etanol (o álcool comumente usado em bebidas alcoólicas), mas de forma mais intensa e possivelmente fatal.
Segundo o Ministério da Saúde, os sinais de alerta costumam aparecer, em média, de 12 a 24 horas após a ingestão da substância, incluindo dor de cabeça intensa, náusea e vômitos, dor abdominal, confusão mental, visão turva repentina e cegueira em ambos os olhos.
De acordo com Felipe Liger, médico emergencista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, é fundamental buscar o pronto-atendimento assim que notar os sintomas suspeitos. “Quanto mais precoce o diagnóstico for estabelecido e o tratamento inicial for realizado com todo o suporte clínico e, eventualmente, uso de antídotos, melhor será o prognóstico”, afirma. “É importante lembrar que a intoxicação por metanol é uma situação com alto risco de morte e dano permanente.”
Como é feito o tratamento?
O tratamento da intoxicação por metanol pode ser feito com o uso de corretores de acidez, como bicarbonato, o tratamento com vitaminas, como ácido fólico, e o uso de antídotos, como o etanol venoso, que inibe a enzima álcool desidrogenase para prevenir a formação de seus metabólitos. Seu uso está restrito aos centros de referência em intoxicação do Sistema Único de Saúde (SUS).
Outro antídoto usado para o tratamento da intoxicação por metanol é o fomepizol, porém a substância não tem registro no Brasil.
Em casos graves, a hemodiálise pode ser feita para eliminar o metanol do organismo do paciente.
“Diante do cenário atual, com notificação de casos cada vez mais progressiva, inclusive de vítimas fatais de intoxicação por metanol, qualquer unidade de saúde deve estar preparada para o atendimento inicial dessa potencial vítima. Lá, ela deve ser avaliada clinicamente com a realização de exames complementares com o objetivo de identificar a intoxicação”, explica Liger.
Como diferenciar embriaguez comum de intoxicação por metanol?
Segundo o médico emergencista, os sintomas de intoxicação por metanol são, inicialmente, muito semelhantes aos de uma embriaguez comum. “O que acontece no caso do metanol é que esses sintomas passam a ser, progressivamente, mais intensos e isso pode não ter relação com a quantidade de álcool ingerida”, afirma.
Em outras palavras, quando há a ingestão de metanol, os sintomas como dor de cabeça, enjoo, vômitos e dor abdominal podem ficar mais intensos com o passar do tempo — e isso acontece independentemente de a pessoa ter ingerido uma grande quantidade de bebidas alcoólicas ou não.
“Além disso, no caso do metanol, esses sintomas passam a ter manifestações sistêmicas pela metabolização do metanol [produção, no organismo, de substâncias tóxicas a partir do metanol], podendo, aí sim, evoluir para uma grande e marcante toxicidade. Basicamente, surgem sintomas no sistema nervoso central, como alteração de comportamento, incapacidade de permanecer acordado e alterações na visão”, afirma.